terça-feira, 27 de novembro de 2007

O Sekulo das Neves

Os olhos lhe percorrem a rasteira vegetação.
O límpido ar do Alto Bimbe flui-lhe pelas narinas.
Em solenes passadas desliza pelo macio chão.
No barro cinza, os jimbos escavaram suas tocas.

Na Chela, as águas prosseguem nos seus leitos.
Como elas, assim o sekulo conhece o seu destino.
Segue calmo e seguro, pisteiro de um nunce fugido da Tunda.
Estas são terras suas, como seu é o sangue que já o chão provou.

Sekulo das Neves, terra de tortulhos,
Kahango dos cinzentos olhos.

Não há quem lhe conheça a idade, no eumbo.
Tão velho como a memória nhaneca, tão novo que ainda não nasceu.
Sobre as pedras rosadas, à beira da Fenda, olhando ao longe o Chamalundo.

A lembrança do seu antigo amor naquele local sempre lhe surgia, teimosa.
Daquela muíla linda, indómita e rebelde, que num dia assim lhe partira.
Por todos os dias como este, ainda hoje a espera.
Sabe que voltará, a esta terra em que viram nascer a luz, doce como os seus olhos.
Virá procurando a fonte das suas águas.
Descobri-la-ão, de mãos dadas, bem perto do céu.