terça-feira, 27 de novembro de 2007

O Sekulo das Neves

Os olhos lhe percorrem a rasteira vegetação.
O límpido ar do Alto Bimbe flui-lhe pelas narinas.
Em solenes passadas desliza pelo macio chão.
No barro cinza, os jimbos escavaram suas tocas.

Na Chela, as águas prosseguem nos seus leitos.
Como elas, assim o sekulo conhece o seu destino.
Segue calmo e seguro, pisteiro de um nunce fugido da Tunda.
Estas são terras suas, como seu é o sangue que já o chão provou.

Sekulo das Neves, terra de tortulhos,
Kahango dos cinzentos olhos.

Não há quem lhe conheça a idade, no eumbo.
Tão velho como a memória nhaneca, tão novo que ainda não nasceu.
Sobre as pedras rosadas, à beira da Fenda, olhando ao longe o Chamalundo.

A lembrança do seu antigo amor naquele local sempre lhe surgia, teimosa.
Daquela muíla linda, indómita e rebelde, que num dia assim lhe partira.
Por todos os dias como este, ainda hoje a espera.
Sabe que voltará, a esta terra em que viram nascer a luz, doce como os seus olhos.
Virá procurando a fonte das suas águas.
Descobri-la-ão, de mãos dadas, bem perto do céu.

8 comentários:

Divinius disse...

ESCUTA O SOM MAIS PURO DA TUA VOZ...

Boas festas:)

Soberano Kanyanga disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Soberano Kanyanga disse...

Apenas um abraço.
Temos cruzado vezes sem conta na casa do Manuel Vieira (Serra da Chela).
Sou daqueles que tb conhece as folhas de Mutiati e o sabor do orvalho matinal, goela a dentro, quando a chuva não cai.
Visite-me, se der.

Isabel Branco disse...

José Frade

Momentos, cores e sons
que me chegam do vazio
pássaros, lianas e águas
cruzando o grande rio
da argilosa pátria
entre os ocres tons
e o cacimbo da folhagem...

Uma doce Páscoa e um beijinho.

Ppoetamenor disse...

bonito poema, abraços

Unknown disse...

Estive por aqui pra conhecer um pouco sobre o seu trabalho!!Abraços Ademar!!

aileda disse...

Olá, Zé Frade!!!SE Gosto...

Sempre faz eco em mim...seu "dizer poético".

Bjão

>Tem um presentinho para si no meu Blog "ailedaAKi"...
"Receba as Flores que lhe dou..."

Maria Teresa Almeida Afonso disse...

Andando a navegar na internet, como tanto gosto, de texto em texto entrei na numerologia. Deparei com as maravilhas do nº 7 e fui procurá-lo. Fui lendo. Já há uns tempos que ando nisto.
Hoje saltei para a página 3 e deparei com isto: o sétimo,breves textos, para eternos momentos... terça-feira, 27 de Novembro de 2007. O Sekulo das Neves. Os olhos lhe percorrem a rasteira…
A palavra sekulo chamou-me a atenção. Só pode ser de alguém que esteve em Angola. Fui ver. Fiquei atónita!!!!!!!!!!!!!!!!!!
• A foto é um espanto; vou pintar um quadro com esta imagem!
• O Sekulo das Neves : - Os olhos lhe percorrem a rasteira vegetação./ O límpido ar do Alto Bimbe … / … … … …. Na Chela, ……./ Como elas, assim o sekulo conhece o seu destino.
• O comentário de MESU MA JIKUKA que refere a Serra da Chela não me deixou dúvidas: é patrício!
• No texto “GERMANA DA HUÍLA, não percebi o que eram os kimbalas. Muitos outros termos não conheci. Fazem parte da linguagem autóctone.
Sou do então distrito de Benguela; vivi em Luanda; mas, que importa! Não o conheço? Conheço sim: - é angolano. Algo nos põe o coração a palpitar em sintonia. Vejo nas diferentes palavras dos diferentes textos: o grande amor àquela terra.
Obrigada pela maravilhosa viagem que me proporcionou; pela sonoridade da sua escrita.
Ouvi grilos no escuro da noite; ouvi, muito distante, o batuque da sanzala e, fechando os olhos, senti o ritmo da dança à volta da fogueira.
Assim foi a minha infância.
Um abraço bem angolano.
Maria Teresa Almeida Afonso
2010-01-26
Telf.: 967763420
e-mail ___ teresafonso@gmail.com